Canto da saudade

A palestra, os lundus, a viola,

O cigarro, a modinha, o café;

Fagundes Varela.

Eu sinto saudades do tempo

Quando era inocente criança,

E vivia d'amor e esperança;

A vida era um breve momento...

Eu passava os meus dias tranquilos.

Os bichos brincavam serenos;

Os ventos sopravam amenos,

E os cantos soavam festivos.

As aves voavam ligeiras;

As folhas dobravam-se puras,

Beijavam as frias sepulturas,

Ornando os seus leitos nas beiras.

Alegre eu bem era - entre as flores

Bebia os divinos perfumes,

Blandícias afáveis... queixumes

Não os tinha, pois não via dores.

Saltava inocente nos mares,

Ao fundo eu tocava as areias.

Cismava em beijar mil sereias,

Depois mergulhava nos ares!

O céu... mas que manto azulado

Bordado p'las nuvens de branco;

Nos montes os trens avançando,

Rumando ao futuro dourado!

Eu sinto saudades - das fadas

Nos topos das plantas, felizes

Sonhavam de noite e as raízes

Torciam em sustento a suas casas.

Eu sinto saudades - da roda,

Do verso, fogueira... ainda vejo

A toada... gentil sertanejo

Gemendo e chorando na viola!

Eu sinto saudades - donzela

Trançando apressada o cabelo,

Vestida com gosto, com zelo...

Me olhando tão pura e tão bela!

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Mas hoje isso tudo não existe,

Após longos anos sofridos...

Restaram dos anos vividos

Saudades... lembranças... sou triste!