SAUDADE DA MANHÃ - 1977

Poema de 1977 - Publicação na manhã de 08 de outubro de 2012

Na manhã úmida e suja

perdidos o Sol e a relva

nu, meu corpo foi doado

ao vento de ar poluído.

Meu corpo, que era de relva,

não tem mais cheiro de verde.

meu seio, que era do Sol,

se encolhe na manhã fria.

Meu corpo nu se recolhe

à saudade da manhã

que era manhã, e mais nada.

Manhã que era só manhã

orvalho no meu cabelo.

Não tinha esse odor de morte

que me mancha o corpo inteiro.

Não tinha esse odor de morte...

Vivi eu outra manhã

outra manhã que era ela

e não qualquer outra coisa?

Já não sei... foi só meu corpo

que sentiu uma saudade... de repente...

Uma saudade...

não se explica, só se sente,

se sente, só, e mais nada.