Ladrilhos...
E vestí saudades...
Vestido leve e branquinho da paz.
Bordado de sonhos... todos bons.
Em sua barra "espanhola"
Todas as rosas que me deste tu.
Um sobretudo com capuzinho da proteção tua...
E risadinhas de crianças - pirilampos!
Estrelinhas... que brilham sem ofuscar...
Deixo eu, então, cair no caminho quando passo eu
Vestida estou.
E sapatinhos calcei eu...
Os de cristal que me deste tu
Do amor que o tempo trincou.
Tropecei eu no tempo e não lembrei que eram cristal.
E foi tão sem querer...
Resta-me à mim lamentar tanto...
Mas calcei-os assim mesmo - hoje.
Trincados... Mas cabem ainda nos meus pés
Cortados ainda... não sara.
Do cristal que quebrei eu - Um tropeço estúpido!
Em cada anelar, um anel!
Anéis de pedras da eternidade.
Não... Esses anéis não se compram!
São presentinhos do seu Criador - do meu.
Na bolsinha?!
Os gritos todos abafadinhos;
Um amor em pedacinhos... um quebra-cabeça.
Nunca mais consegui montá-lo...
Faltam algumas peças que perdi...
No tropeço que dei eu no tempo.
Guardei também toda a insônia e as lágrimas nossas.
E também a minha desventura...
Ela mal cabe na bolsinha.
Nos cabelos, fiz cachos largos e os prendi.
Se soltos, embaraçam-me ainda mais.
E pus uma tiara de esperança... linda!
Com gotinhas de orvalho fresco...
E borboletinhas azuis para alegrarem à mim!
E um arco-íris no raio de sol...
Sol que levanta-se todos os dias...
E mistura-se à chuvinha fina de mim.
Senti os meus pés molhados...
Cortados... Foi no cristal que quebrei eu.
Tropeço no tempo e sangra... e faz lama.
Do perdão que nunca me deste tu.
E continuo a andar
E vou largando eu as minhas trilhas e tralhas de mim - ladrilhos
Pelos caminhos tantos, todos meus...
Do perdão que sangra... e que nunca me deste tu.
Karla Mello
19 de Setembro de 2012