Saudade

Enquanto lá fora

a tarde se entrega ao ocaso,

em seu deslumbrante

vestido de morte,

aqui,

na semi-escuridão

alaranjada

deste meu quarto

de dormir,

ouço,

com o coração

gelado

de alegria,

os concertos

de Brandenburgo,

de Bach.

A noite

traz consigo

suave

brisa outonal,

que entra

pela janela

em silêncio profundo:

pequenos galhos e folhas secas dançam,

e suas sombras

são como fantasmas na parede.

Sou criança de novo,

sinto meu corpo

quase flutuar

sobre a cama,

e um cheiro bom

de broa de fubá

com erva-doce

me chega de longe

no tempo.

Uma frase me vem de repente:

“Amor de vó tem cheiro de erva-doce”.

E tão de repente assim,

no mesmo sopro

de memória,

outros cheiros

e imagens

ressurgem

do passado,

cheios de vida:

meus avós

na roça,

fogueira de Santo Antônio,

cipó de São João,

café,

biscoito,

canjica

e quentão.

A saudade hoje é laranja,

é fria

e arde.

Flávio Marcus da Silva
Enviado por Flávio Marcus da Silva em 15/09/2012
Código do texto: T3882966
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