tola pescadora de estrelas
estava eu
a olhar o rostinho teu
tão meu, tão meu
e fico daqui - eu
a odiar o espaço e o tempo
que transforma o rostinho - teu
e não consigo eu acompanhar
e esforço-me tanto, tanto...
a procurar onde "larguei" eu
a menininha minha...
rostinho de espinhas e risadinhas tolas
passinhos de dança com a vassoura
gargalhadas nossas e molecagens
e pergunto eu a Deus
o que quer de mim Ele...
uma espécie de sina - a minha
sair de cena... assim...
e pular fases tuas - sempre
e o que quer dizer-me Ele...
o que queres dizer-me, Senhor?
e as lembranças minhas
brincam de mãos dadas
com cantigas de rodas
e vestidinhos de bicos
e sempre tão educadinha frágil - tu
e sempre a espreitar-me
entre um batom e um brinco novo
todos teus, das "trelinhas" tuas!
e pego-me a chorar sem querer...
e penso que é tudo "sem querer"...
são coisas mesmo minhas.
e Deus deve afagar-me
e explicar-me das tantas ruas que andei eu
das tantas vidas que vivi eu
das tantas escolhas que fiz eu
a procurar a paz, a paz...
mas sempre esteve ela
onde nunca a encontrei eu
dentro de mim, dentro de mim.
e não a encontrarei nunca
pois que é coisa de "desajuizo" - meu
essa inquietação tola - minha
e que não entendo eu.
e amanheço assim, tal hoje...
sem querer saber de mim.
e amanheço uma outra:
a que julga-me!
a que cospe-me!
a que diz-me, todos os dias...
"és tola!
és sempre muito tola!
guarda a rede tua
a de pescar estrelas!
e pára com essa estúpida mania tua...
de correr atrás das borboletas!"
ergo-me, então… sempre.
e silencio... sempre.
e choro.
e vou à um outro "esconderijo" - só meu
neste... a outra lá não chega.
vou descalça!
e corro eu quase feliz...
aos meus contos de fadas.
Karla Mello
29 de Agosto de 2012