SONHO DE ÉPOCA
Quando criança, eu sonhava com o belo, e com a fantasia;
Sonhava com a casa de água encanada, e com a cama macia;
Sonhava com a mesa farta, sapato no pé, camisa passada;
Sonhava com a matinê no cinema, e com o palhaço, a dar risada;
Sonhava com o jogo de futebol, com os aplausos, e com o riso;
Sonhava com o futuro, com a boa escola, pois era preciso;
Sonhava com o rádio novo, e com o banho no velho açude;
Sonhava com Deus, sonhava no céu, e que Ele me ajude;
Quando adolescente, eu sonhava com a namorada bonita;
Sonhava com a lambreta novinha, com o relógio, uma fita;
Sonhava com o futuro, com o trabalho, a solda, a oficina;
Sonhava com a profissão, com o dinheiro, com a mina;
Sonhava com o diploma, com o emprego, com o ganha-pão;
Sonhava em ajudar meus pais, e os demais, sem exceção;
Sonhava em amar, casar, ter filhos e vê-los pela rua a correr;
Sonhava em viajar, estudar, aprender, conhecer, viver;
Quando adulto, eu sonhava com os netos, e os afetos que dava;
Sonhava em ler mais, entender, e compreender o que faltava;
Sonhava com a paz, com a segurança, e com a dança da terra;
Sonhava com os homens, com os poderosos, senhores da guerra;
Sonhava com as matas, com os rios, e com os belos animais;
Sonhava com as flores, com as borboletas e oceanos iguais;
Sonhava com o ar, e com o veneno a grassar nossas vidas;
Sonhava com os jovens, com os idosos, e pessoas queridas;
Agora em idade, eu sonho todos os meus sonhos antigos;
Sonho com a antiga casa de telhas, e com os velhos amigos;
Sonho com o sacrifício da falta de água, não encanada;
Sonho com a velha lamparina, que fazia figura encantada;
Sonho com a velha lambreta e com as caronas que eu dava;
Sonho com a segurança que da ditadura tanto se reclamava;
Sonho com os inocentes corruptos de cinco por cento;
Sonho sonhos românticos, fantásticos, só por um momento.
Campina Grande, 31 Ago 2006.
(REPUBLICADO COM NOVO TÍTULO)