Doce Miguel
Em memória de Miguel de Mendonça Masterlini, meu filho, o qual Deus preferiu escrever uma outra história e eu essa.
Dorme meu filho no edredom com a mamãe
e sonhe que o mundo inteiro é bom.
Sonhe que as nuvens são de algodão.
- Doce papai?
- Doces e amarelas!
E as bombas da guerra são de melão.
Sonhe que o riacho é vitamina de abacate
e que toda essa chuva é de chocolate.
Sonhe que a nossa casa é de bolacha.
-Recheada?
-A que você preferir!
E que a nossa rua é de marmelada.
Sonhe que o frio é bala de hortelã.
Põe o casaco!
E o muro de casa bombons de avelã.
-Hummm!
Sonhe que as torneiras são de bananas.
-Com canela, papai?
-Isso!
E os nossos cabelos, macarronada.
Sonhe que o azulejo é goiabada desenhada
e que ninguém quebra o braço,
só quebra-queixo.
Sonhe que o sorvete cai lá do céu quando neva
e que todos os carros são de papel.
Sonhe que mau, só o lobo-mau.
-E o gargamel?
-Também meu filho!
Mas, se não fosse a fome seria um lobo legal.
Sonhe com a alegria do carnaval.
-E a do natal?
-Também!
E que seja o ano inteiro em cada quintal.
Sonhe moleque que o papai está aqui,
junto da mamãe lendo um gibi pra ti
e já que você está ai com o papai do céu;
conte seu sonho pra Ele e
olhe por nós meu doce Miguel.
-Papai?
-Oi.
-Tô sem sono!