aquela velha calça desbotada, ou coisa assim

o que seriam desses detalhes tolos que só agora me vêm a tona se não fosse nós.

o que seriam deles sem a minha memória atrasada

que já não vale mais nada.

o que seria do moletom vermelho

manchado na manga esquerda

sem as noites frias que passamos longe

e a mancha de leite de magnésia

e a virose

e os dias úmidos ao sol.

o que seria daquela tua blusa

I Love Rio

com o terceiro e o quarto botão,

se eu não os tivesse arrancado

e o que seria do teu sutiã, também.

o que seria daquele cd do Roberto

tão triste

que amargurávamos nós dois

entre nós

entre teus óculos de armação vermelha

e minha barba nunca feita

e o chão do meu apartamento

e a chuva doce no basculante alto

e os teus braços frios no meu abraço.

o que seria daquele teu batom que nunca gostei da cor,

mas que preferi não te dizer,

sem os teus beijos manchando minha regata branca

mal tirada

mal jogada

e mal vestida.

o que seria daqueles meios-dias de domingo

ressacados

do teu sorriso forçado ao bom dia no pé do ouvido

do meu braço

dos teus cabelos

do teu sono

seriam e iam ser

o que se fora

já que o hoje nada mais é que o futuro do passado.

pretérito mais que perfeito.

por exemplo,

o que será do teu próximo sete de setembro

sem o meu violão,

e a minha moto,

e ipanema ao entardecer

e os sorrisos

e as promessas

e as besteiras faladas ao mar

e o mar.

lembra? te prometi que faríamos tudo outra vez.

o que será de mim

sem a tua inconstância

sem a tua presença

sem a tua desavença

tua provocação

teu lábio inferior mordido

teu sorrir com os olhos

teu cheiro de vida na minha cama

que insiste em não acordar.

vou juntar-me a esses detalhes

tão pequenos de nós dois

coisas grandes demais pra se esquecer.

espero que não nos esqueça.

eu não esqueço

e nem adianta mais tentar.

Rivaldo Júnior
Enviado por Rivaldo Júnior em 27/07/2012
Código do texto: T3800782
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