A voz traiçoeira da saudade.
A saudade pisoteia, enfeia, afronta.
deixa a alma bamba, manca,
faz do coração barata tonta,
Quando chega alforria a dor,
faz desaguar cada lágrima guardada pra dia nenhum,
torna nossa vida sem vida.
Seus tentáculos são aves de rapina,
que desafinam o respirar, o gozar,
que nos deixam ilhados em nós mesmos pra sempre.
Sua voz é rançosa, entalada, surrada,
quando infecta o peito deixa tudo breu,
quando invade o tempo nada mais teu.
A saudade é traiçoeira, vil, suja,
seu andar cambaleante nunca chega aonde quer,
quem quiser entender o que sairá do seu ventre, desista,
quem pretender traduzir qualquer gota do seu suor, tempo perdido.
Mas terá o dia da desforra,
quando cairá por terra cada flanco encardido do seu rastro,
então poderemos flagrá-la desnuda, desarmada e então, por certo,
finalmente deixaremos voar o quinhão de alma que ainda restou em nós.
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