Neblina
Aquecida a triste solidão
No leito, as tuas lembranças
Retrato da existência viva
Alma acordada sentida
Apago a luz da agonia
Da tristeza que me invade
Para acender a saudade
Do que foi felicidade
Pingos d'água na janela
Onde floriram as camélias
Ao lado da velha floreira
Que ficou pra vida inteira
O balido das ovelhas
Aconchegadas no estábulo
Rompe no peito obstáculos
Faz-se o pranto desmedido
Sob o cinza da neblina
Inútil estrelas buscar
Coração portas emperra
Na insanidade da guerra
Sentimentos espalhados
Nas areias da loucura
Mesmice voltar ao ontem
Confuso o novo horizonte
Mar de tédio sem remédio
Banhado no rio de lágrimas
Rotina que ronda a alma
No passado acorrentada.
(Ana Stoppa)