Lar, chão, Palmeiras e mudança

*Estando o poeta para mudar-se...

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"Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,

Muda-se o ser, muda-se a confiança:

Todo o mundo é composto de mudança,

Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,

Diferentes em tudo da esperança:

Do mal ficam as mágoas na lembrança,

E do bem (se algum houve) as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,

Que já coberto foi de neve fria,

E em mim converte em choro o doce canto."

E afora este mudar-se cada dia,

Outra mudança faz de mor espanto,

Que não se muda já como soía."

(Luís Vaz de Camões)

Nestas paredes, fez-se a Fortaleza

Que ilumina a Família! Que tristeza...

Não mais verei o chão de minha infância!

Aquelas tardes, junto as grãs Palmeiras,

Serão Lembranças vagas e fagueiras...

Fugaz Lembrança nessa atroz distância.

As Ressonâncias lúdicas, douradas,

Nestas paredes brancas, desbotadas;

Eram, às vezes, Músicas perfeitas!

A Luma, eterna amiga das Estrelas,

Deitava-as ao quintal... E eu, p'ra entendê-las,

Via tudo... Com Lágrimas desfeitas.

O farfalhar dos ventos nas Palmeiras...

Que Músicas! As folhas, quais bandeiras,

Deixavam o Lar verde, deslumbrante!

Auriverdes bandeiras de meu Lar;

Estandartes formosos como o Mar...

Balançai! Dançai! Nesse Som galante!

Ah! Deste chão refez o Sol ardente

O alicerce pujante, congruente

Da Família - Senhora desta Valsa!

A Luma, vacilante em seu andar,

(Já saudosa dos donos deste Lar)

Anda sobre o quintal... Muda e descalça...

E deste solo fez a lei da Vida

Túmulo da memória tão querida

De vários cães que aqui foram lembrados...

Ser tão simples... Mistério tão honroso!

Assim se faz um Cão, livre, mimoso...

Fiel em seus Destinos já traçados!

Talvez não existisse essa saudade,

Que assola quase toda humanidade,

Se Lembranças não fossem tão fagueiras.

O caráter fugaz de nossas vidas

Faz das lembranças súplicas queridas...

E traz saudades destas grãs Palmeiras!

Um Poeta jamais (sendo poeta)

Esquece a casa mãe e, em linha reta,

Contorna os seus caminhos tortuosos.

Forma encontrada, para não sentir

A grande dor d'um triste despedir...

Nestes versos tão vagos, tão saudosos!

Deste prédio primeiro em que vivi,

Na cidade pequena em que nasci,

Fez o tempo o Lar vasto das Lembranças.

E que poder é este das Memórias?

Paredes tão imóveis, ilusórias...

O Inanimado feito em vidas mansas!

Nestas paredes, fez-se a Fortaleza

Que ilumina a Família! Que tristeza...

Não mais verei o chão de minha infância!

Aquelas tardes, junto as grãs Palmeiras,

Serão Lembranças vagas e fagueiras...

Fugaz Lembrança nessa atroz distância.

*Decassílabos no ritmo heroico

*Esquema rimático (AABCCB)

29/06/2012

Innocencio do Nascimento e Silva Neto
Enviado por Innocencio do Nascimento e Silva Neto em 29/06/2012
Reeditado em 09/01/2013
Código do texto: T3751583
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