Pássaro Alado
Existem dois caminhos, duas bifurcações que
se entrelaçam, se cruzam, mas continuam sendo
dois mundos distintos, separados, distantes, há
um abismo, uma clara separação.
É verdade, a vida maltrata, dói, machuca, deixa
marcas, vestígios de um sofrimento, as vezes
constante, outras efêmeras que me fazem voar.
Nosso ninho era firme, florido, nos cercava, nos
protegia, nenhum vento nos aterrorizava, nos
impedia de planar sob o céu celeste, dançar na
chuva, cantar nossa música.
Mas estávamos em mundos diferentes, não entendia
meu coração, deixaste num breve espaço do tempo
a janela aberta, abriu-se uma brecha, uma fresta,
uma cratera em meu coração.
No espaço vazio, por fim, decidi voar, parasitas a me
cerca não me deixavam voltar, não podia regressar,
era inconstante, errado, erraste não podia ali ficar.
Na aurora sobre outros nichos, ou deitado no chão
vi os sonhos se irem, passarem, o pretérito se fez
perfeito e a luz que havia em ti começou a se apagar,
meu brilho que antes radiante ao te encontrar perdeu-se
na outrora.
Fizeste de tudo, mas o verão já havia passado agora
era outono, ficaram apenas as folhas caídas pelo chão
esperando a segunda estação do frio glacial que
congelaria cada grão,fragmentos de minha emoção.
Hoje ainda é outono, mas vejo que ainda estais aí, ainda
permanece em mim, não como astro rei: intenso ofuscante,
chama viva. Hoje es brasa fria, guardada em algum lugar
dessa imensidão, não sei onde estais, não sei se ainda
por muito tempo viverá.
Meu coração ainda está fechado, não está pronto, livre,
liberto dos antigos pesadelos, das tristes ilusões,mas está
aberto para um futuro, para as boas lembranças para as
lindas recordações.
Sob tantas assas viajei, viajarei, se fecharei os olhos
ou regressarei, não sei,viverei agora sem presa, sem
desilusões. O futuro de outras estações a mim não
pertence mas sim a meu coração, ele trilhará sem dúvida
os melhores caminhos que diante de mim surgirão.