filha tua, meu chão...
e quando eu daqui partir
no regresso à terra minha
hei de acenar ao tempo
da ausência tua - "casa" minha.
e sem nada mais a chorar,
e sem nada mais a calar,
agradecerei a acolhida
amigos fiz sem despedida.
e libertarei do meu peito
o sabiá e o meu cruzeiro do sul
que fazem dos meus olhos brotarem
rios da mãe d'água - oxalá!
e exaltarei o meu cocar
e as raízes que como eu lá
as mesmas que me percorrem
as veias e os pensamentos.
e voltarei ao umbuzal
à jaboticabeira de quintal
ao caju e à manga madura
dos mangues, o lamaçal
dos rios que cortam a terra minha
terra doce e minha imortal.
e a mãe d'água há de abraçar
a sua filha ao retornar
e prender-me-á em seus cabelos
e dar-me-á leite do peito
para que nunca mais possa eu
sair do seu colo tal adulta
e me despir do seu ninar!
sou criança tua, terra minha, meu chão!
sou criança tua...
trago a flor no cabelo
o vestido de flores e a saudade
trago ainda e novamente...
os meus pés no teu - no meu chão.
Karla Mello
08 de Junho de 2012