SEM RIMA 136.- ... saudades do nunca...

"Tenho saudade, saudade tenho..."

Assim começa a letra duma canção

que entoava não tonitruante

Júlio Iglésias, cantante em tons variados.

Eu não executo melodia nenhuma.

Apenas confesso saudades do nunca,

como...

Era acaso Peter Pan

menino tão saudoso

da sua meninice

que não deu conseguido

se libertar dela...?

Eu igualmente tenho

saudades da minha ignorância:

Por exemplo, ignoro com imperícia

totalitária (assim é!) quem é quem

nestes nomes de poetas portuguesas:

Isabel Pires de Lima, Maria Alzira Seixo,

Maria João Reynaud, Clara Rocha, Paula Morão,

Fátima Freitas Morna, Helena Buescu,

Maria Irene Ramalho, Maria de Fátima Marinho,

Isabel Allegro Magalhães, Maria de Lurdes Sampaio,

Ana Gabriela Macedo, Rosa Maria Martelo,

Laura Fernanda Bulger, Sophia de Mello Breyner Andersen,

Maria Teresa Horte, Mafalda Ivo Cruz,

Yvette Centeno, Clara Pinto Correia, Helga Moreira,

Luísa Dacosta, Ana Luísa Amaral, Helena Marque,

Fátima Maldonado, Maria Velho da Costa,

Rosa Alice Branco, Lídia Jorge, Isabel de Sá,

Maria Isabel Barreno, Inês Lourenço,

Teolinda Gersão, Regina Guimarães,

Julieta Monginho, Ana Hatherly,

Luísa Costa Gomes, Adília Lopes,

Hélia Correia, Agustina Bessa-Luís.

Visitei algum sítio em que se trata

de alguma delas e assombrou-me

a fina pulcritude, a perfeição singela

e a gentileza generosa a derramarem

os seus textos, poemas sentidos.

Não fui nem serei capaz de assim sentir.

Sei que não sou totalmente feminino:

"Ninguém é perfeito", frase final

de 'Quanto Mais Quente Melhor' (1959),

cujo título original 'Some Like It Hot'

foi adaptado pela censura do ditador Franco

(nesta Espanha em que escrevo)

como "Con faldas y a lo loco",

em vez de "A alguien le gusta lo caliente"...

(Ah, "caliente", curiosa palavra,

de que muito gostam hoje poetas no Brasil...)

... esqueceram-me as saudades desse nunca

que cada dia, cada hora remoem

no meu cérebro sem lógica...