À MINHA MÃE QUE MORREU
...
Sei que “estaria”, e sinto falta nessa poesia,
Numa madrugada dessas de intenso frio,
Vendo ao redor do leito se o cobertor cobre direito...
Se realmente aquece o corpo da gente; se o colchão permanece quente; macio...
...
Quando ave guerreira foi das que lançou seu olhar sobre a mata...
E nos vôos precisos, voou, quando preciso, atrás do que preciso...
Sempre voltava trazendo, aos “pititicos”, mais do que comida no bico...
...
Quando mãe de adolescente foi amiga e, justamente,
Porque perto da gente, “subiu e desceu”; e viu, num certo “de repente”,
Que, finalmente, a prole, assim como nasceu, cresceu, naturalmente...
...
Enquanto mãe de filho adulto que viu derrota...
Preferiu se calar a dar um conselho “qualquer nota”...
Mas assim que pisava em solo conhecido...
Lançava-nos aquele olhar sabido; ajudando a reajustar a rota...
...
Enquanto mãe de filho adulto vencedor...
Passava da risada contida à alegria desmedida...
Mas sempre lembrava que dor também pode rimar c’amor...
E vice-versa; e, disfarçando c’esse tipo de conversa...
Embrulhava o orgulho num papel de embrulho...
...
Agradeço a Deus que me permitiu
Dar-lhe a casa onde ela partiu (do jeito e no lugar que ela pediu)...
...
Não me esqueço um só dia de sua santa sabedoria...
A mesma mulher que me ajudou (nos apertos dos shows)
(A família toda se dividia desde a bilheteria ao balcão da cerveja)
Com devotado amor acompanhou meu pai Cooperador;
Virou ainda mais mulher de igreja...
...
Difícil num dia desses não chorar...
É que me ponho a lembrar daquela Santa criatura...
Que morreu, de repente, no quarto, sozinha,
Sentadinha; rosto colado na Sagrada Escritura...
...
...
....
Foi chorando copiosamente que adentrei o Posto de Saúde da favela
C’a triste missão de, oficialmente, reconhecer o corpo dela...