"ARRIMO DA MINHA VIDA"

Onde minha amada pode estar?

Como diz prolóquio popular

“Muita calma nessa hora”;

Nem pânico nem euforia,

Se ela foi mesmo embora,

Nada a fará voltar!

A falta que ela me faz,

Faz-me um rio seco na foz!

Sem ela não há sonho

E a realidade sem fantasia

É um monstro medonho!

Perguntas-me quem seria ela?

Se a amo tanto,

Que por ela derramo pranto?

Ora: ela é minha gueixa, minha donzela!

A dama dos sonhos e da fantasia,

Ela usa a língua com arte,

Ainda que fale palavra de baixo calão,

Nunca perde o respeito e o porte!

Que não a vejo e não a sinto

Já vai para o dia décimo quinto!

Se eu soubesse onde a levou este inverno,

Eu a buscaria até no quinto do inferno!

Não, não! Não falo de uma bela mulher,

Essa teve sua vez, busquei-a, ficou tão pouco,

Deixou-me, voltou,... quase fiquei louco!

Minha má sorte,... seja como Deus quiser!

Falo da dama de minhas noites de solidão,

Daquela que na dor e na alegria,

É-me segura companhia!

Oh! Certo ninguém pode saber,

Não é algo para se saber – há de sentir!

Ó Deus, sabes de quem falo!

Queres que me cale?

Antes, com um grito, o Mundo abalo:

Onde estás amada minha,... Oh! Poesia?

Manoel de Almeida
Enviado por Manoel de Almeida em 20/04/2012
Código do texto: T3624037
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