Memórias de Dona Mocinha
Lembro do gosto da lenha, do fogo e da fumacinha,
Do toucinho pendurado, defumado, da brasinha,
Da panela de ferro, do fogão de lenha de tijolo e barro,
Da cama de palha, do fumo de rolo e do eucalipto queimado,
Do vento soprando o telhado de sapé de pau-a-pique,
Do café fraco, do feijão com angu e do alambique,
Das cinzas prateadas caindo do fogo do meio do carvão,
Depois que juntava fervia no óleo e virava sabão,
A lenha que estalava no fogo a toda hora,
Puxando a lembrança das coisas de outrora,
Quando Mocinha vivia com a gente cozendo mandioca,
Sorrindo da vida, resmungando da lida, estourando pipoca,
Fazendo quermesse com Padre Renatus, bolinho e quentão,
Rezando no terço, costurando o retalho na máquina de mão,
Seu Zé agitado, na lida corrida, no trato da venda,
Desenrola, estica, corta e embrulha, mede com a fita a fazenda,
Os meninos carpindo, ligeiros, sorrindo, o milho da roça,
Puxando o burrinho, limpando o moinho e enchendo a carroça,
Das prosas esticadas, das longas cavalgadas, nas terras de Areias,
Cochicha baixinho do filho da vizinha em nossas orelhas,
Ser tão saudoso do sertão formoso, morada dos Lopes Faria,
A neblina da serra, da mata, da terra do ribeirão de água fria,
Das coisas simples do viver gostoso do Morro Frio,
Da Fazenda Esperança onde tudo começou do fubá e do milho,
Da Bocaina enluarada, cheia de contos, cheia de histórias,
Instâncias queridas, para sempre vivas, em nossas memórias.