SOLIDÃO NA CASA GRANDE
Casa sempre cheia
De contagiante alegria
Gente que chegava, gente que saia
Sempre alegres vozes
Tanto de noite como de dia
Na grande sala aconhego
Dos compadres e das comadres
Dos parentes e amigos
Casa sempre cheia
Cavaleiros que lá se apeia
Casa grande de gente alheia
Dos alegres gritos das crianças
Do meu pai a fala mansa
Da mamãe que não se cansava
Com as comadres se deleitava
Fogão de lenha crepitante
Aquecia o frio num instante
E também o coração da gente
Num cantinho o leite quente
E o café bom de pilão
Eram tantos os que se viam
Na casa da animação
Quando a mãe então fadigada
Prum cantinho se apartava
Dos seus muitos afazeres
Se escondia e descansava
Mas assim que melhoravas
Ao batente logo voltavas.
E assim era a nossa casa
Muita movimentação
Havia sempre aos que chegavam
Uma boa recepção
Ver a casa sempre cheia
Dava alegria ao nosso coração.
Hoje cheguei de mansinho
Fui visitar minha mãe
Ja sabia o que esperava
Uma triste solidão
Vim de longe visitá-la
Queria muito abraça-la
Entrei de mansinho
Verifiquei devarinho
Tão sozinha e num cantinho
Segurava sua bengala
Recostada na almofada
Para o nada ela olhava
Decerto ouvia vozes
De anjos que a visitava
Pois o que restou na casa grande
A saudade do que foi um dia
Uma vida de muita alegria
E o peito não mais esconde.