Balada da primeira escola
 
Exibindo nas manhãs
as engomadas brancuras
dos aventais e guarda-pós,
éramos lírios garbosos no jardim
ou do mar brancas espumas
na praia beijando a areia.
 
Nas malas e sacolas,
livros, cadernos, lápis e borracha.
Pão com queijo ou mortadela
pra reforçar a ceia.
 
Surgíamos de todos os cantos.
De muito perto
ou bem de longe.
 
A escola que nos esperava
amanhecida em silêncio e
saudosa da algazarra,
pouco a pouco se completava,
de novo engalanada
e radiante com nossa farra.
 
Feliz, eu tomava assento
ao lado da namorada,
que nunca soube que
era minha
porque não lhe contou o vento.
E sequer ela sonhava
que eu era dela...
 
Um olho no quadro negro,
outro na menina linda.
Se a professora desse o flagra,
voaria pela janela.
 
No entanto, voltaria sem demora,
mesmo rubro feito almagra,
a cuidar do que eu pensava
que era meu.
 
O recreio, quer hora melhor?
Bolinhas de gude,
figurinhas no bafo.
Jogo do pião.
 
No outro pátio,
anjos cantavam...
Eram as meninas
brincando de roda.
 
Apenas uma, contudo, eu ouvia...
Aquela do coração.
 
Todos cresceram.
Adultos alegres
ou tristes ficaram.
Nas universidades ou na vida
com louvor se formaram.
 
Alguns, doutores;
outras, professoras.
Dignos operários.
 
Mas na saudade que tenho agora
e no amor que senti,
só não crescemos
eu e a Leoni. 


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N. do A. – Na ilustração, o autor na clássica lembrança escolar em junho de 1957, no Grupo Escolar Prieto Martinez, Curitiba – PR.
João Carlos Hey
Enviado por João Carlos Hey em 23/02/2012
Reeditado em 22/09/2021
Código do texto: T3515014
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