SAUDADE
Saudade chega sem alarde
e parte sempre tarde, sempre tarde.
É senhora pomposa, de pele sedosa,
face rosada e sempre servil.
Quando enevoa, atiça seus sentidos
feito grito alucinado do Exú dos Exús.
Quando destoa, esgrima seus fardos
feito cheiro de grama molhada.
A saudade não esconde suas garras
nem seus ecos, nem suas tocas.
Também não expulsa todos os anjos,
deixa sempre o último agonizando até o fim.
Ela conhece nossos amores e tumores,
sabe a quem servimos e quem traímos,
todos.
A saudade sacia sua agonia purgando cada
gota do nosso sangue, não deixando coagular
um tiquinho que seja, para seu deleite e prazer.
Quando jorra suas ancas sobre nós,
não deixa pedra sobre pedra,
sonho sobre sonho,
luz sobre luz.
É cruel nos seus cântigos, nos seus arremates,
é tirana na sua fé.
A saudade não se despe diante de nós,
mantendo sempre um véu negro sobre o nosso coração.
Ela faz da nossa vida uma alegoria manca e maluca,
verdadeira revoada de lágrimas bastardas que
vêm e vão com cadência franciscana.
Um dia, sabe lá quando, teremos achado suas correntes
e esmigalhado cada torrão da sua raiz.
Então, por certo, entenderemos
que esvai dela a nossa alma.
Para sucumbir nela toda nossa respiração.
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Dedicada ao meu filho primogênito, David, que viajou por
alguns dias e que amanhã estará de volta para alegria
de toda sua família.
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