SAUDADE

Saudade chega sem alarde

e parte sempre tarde, sempre tarde.

É senhora pomposa, de pele sedosa,

face rosada e sempre servil.

Quando enevoa, atiça seus sentidos

feito grito alucinado do Exú dos Exús.

Quando destoa, esgrima seus fardos

feito cheiro de grama molhada.

A saudade não esconde suas garras

nem seus ecos, nem suas tocas.

Também não expulsa todos os anjos,

deixa sempre o último agonizando até o fim.

Ela conhece nossos amores e tumores,

sabe a quem servimos e quem traímos,

todos.

A saudade sacia sua agonia purgando cada

gota do nosso sangue, não deixando coagular

um tiquinho que seja, para seu deleite e prazer.

Quando jorra suas ancas sobre nós,

não deixa pedra sobre pedra,

sonho sobre sonho,

luz sobre luz.

É cruel nos seus cântigos, nos seus arremates,

é tirana na sua fé.

A saudade não se despe diante de nós,

mantendo sempre um véu negro sobre o nosso coração.

Ela faz da nossa vida uma alegoria manca e maluca,

verdadeira revoada de lágrimas bastardas que

vêm e vão com cadência franciscana.

Um dia, sabe lá quando, teremos achado suas correntes

e esmigalhado cada torrão da sua raiz.

Então, por certo, entenderemos

que esvai dela a nossa alma.

Para sucumbir nela toda nossa respiração.

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Dedicada ao meu filho primogênito, David, que viajou por

alguns dias e que amanhã estará de volta para alegria

de toda sua família.

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Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 21/02/2012
Reeditado em 21/02/2012
Código do texto: T3512204
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