BRAMIDO DE SAUDADE

Não vejo o sutil vulto do escuro

Irrompendo em minha nobre alma.

Vejo apenas o sopro do sussurro

Dos seus lábios aliviarem-me em calma.

Não vejo farpas de arames em minha volta

Impedindo-me de andar livremente.

Mas vejo um lídimo horizonte na escolta

Dos meus anseios que cultivo tenazmente.

Não vejo tempestades frívolas de arrogância

Inebriarem meus sentidos por dentro ou por fora.

Mas vejo o fino idílio da minha infância

Crescer em cada halo de um verso de agora.

Não vejo um súbito objeto do meu desejo

Tomar-me o sentido da límpida sensatez.

Mas vejo um singelo toque de um beijo

Levar-me a um efêmero estado de embriaguez.

Não vejo nenhuma grande e altiva distância

Que possa fanar a esperança de uma procura.

Mas vejo um sorriso alargar-se em abundância

Colocando-me ao alcance de uma simples candura.

Não vejo uma pequena nesga de solidão

Invadindo o meu peito por estar sozinho.

Mas vejo um bramido de amor no coração

Por estar cheio de amigos em meu caminho.

Não vejo mágoas, nem raiva, nem lamento.

Só vejo virtudes que são minhas verdades

Com as alegrias que moldam meu sentimento...

Só vejo o melhor para vestir minhas saudades.

Márcio Ahimsa
Enviado por Márcio Ahimsa em 17/01/2007
Código do texto: T349553