Retrato antigo
Olhei pelas frestas da fechadura,
Inda o dia não havia nascido
Minha alma cheia de ternura
Aportou o chão infante e querido
Da pestana dormente, a lembrança
Viva, e em cada parede trincada,
Tinha os gestos de criança
Da inocência rude, tão encantada!
Debrucei-me por cima do nó
Que eras o berço frágil e macio,
Da rede costurada por vó,
Mas de conforto seguro e arredio
Era um tempo de fartura nobre
Dentro do rancho onde nasci;
Porque os anos me levou pobre
Para a vida ensinar o que aprendi.
Decerto, abri os olhos por inteiro
Do sonho em que eu sonhava;
Meu corpo magro e derradeiro
Fugiu de repente, eu não mais estava!
10 de fevereiro de 2012