TOMBOU TOMANDO MORFINA

Dediquei esses versos à minha irmã Maria que faleceu precocemente em 1996 na Santa Casa de Misericordia em Belo Horizonte.

Dedico a todas as pessoas que perderam entes queridos nas mesmas circunstâncias. A maldita doença que não faz parte do livre arbitrio.

MARIA DAS GRAÇAS – "CICINHA"

Autor Luiz Bento – 13.12.96 – 29 dias após sua morte.

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Mania, mania, mania,

Mania de ser Maria,

Maria com tanta mania

Mania de correr atrás

e não alcançar

Mania de andar pra trás

E não saber chorar

Não saber gritar

Mania de não saber

Apesar de querer,

Ser feliz, sem sofrer

Ou continuar caminhando

Mesmo infeliz, sem lazer

Pra depois de velha morrer.

Mania, mania, mania,

Mania de ser Maria

Maria que não deu cria

Mas a gente sabia que ela queria

A gente sabia que ela sofria.

Foi-se embora de nossa vida

Duplamente embevecida

Mesmo travando luta renhida

Na cama desfalecida

Fez ruidosa despedida

Foi uma ida descabida.

Pobre menina

Tomando morfina

Triste sina

Mania, mania, mania,

Mania que foi mais Maria

No ultimo dia, de uma injusta agonia

Maria que foi embora,

Antes da hora

Não seja tola, não seja tola

Querida maninha

Você é a única irmã “brigona” que eu tinha

Fica Cicinha de Gininha

Fica maninha, fica maninha

Fica Maria Cicinha

Fica Maria “Sinhuca”,

Minha querida irmãzinha

Não caia nessa arapuca.

Reaja, vê se me escuta

Pequenina, a pobre menina

Alegre e dançarina

Tombou tomando morfina

Foi-se embora chorando,

Gritando contra a sorte

De ter encontrado a morte

Dizem que Deus sabe o que faz

Mas também sabe o que desfaz

E faz a gente escrever chorando,

Protestando, não concordando,

Aqui jaz,

Precocemente,

Infelizmente,

Por morte contundente

Maria na Santa Paz

Maria contumaz. !!!

Maria, Maria Maria

Na luta do dia a dia

Enfrentou a morte com valentia

Mesmo vencida, persistia

Contra o espectro da covardia

Do misticismo, da magia

Do Criador, a ironia

O fim da fantasia

O fim de mais uma Maria

Maria, Maria, Maria

Maria que não deu cria

A gente sabia que ela sofria

E a gente sabia que ela queria

E foi assim, que ela nos deixou um dia.

Luiz Bento (Mostradanus)
Enviado por Luiz Bento (Mostradanus) em 08/02/2012
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