Sem Título
O apito de um trem,
o badalar do sino de uma igreja qualquer,
são sons que remetem à infância,
àquele tempo
em que as horas eram longas
e os momentos escorriam pelos dedos
vagarosamente
qual visgo grosso e quente
a colar-se à pele.
Os minutos transcorriam lentos como horas,
na preocupação do brinquedo,
das corridas, da cabra-cega,
do pega-pega, das cirandas de roda.
A buzina de um carro,
um rádio em alto volume a gritar “heavy metal”,
trazem-nos de volta ao hoje,
à nova realidade
dos dias que se transformam em horas,
das horas que se fazem minutos,
escoando fugidios e céleres
a roubar-nos o tempo de viver.
Lu Narbot
Do livro Versos ao Longo do Caminho - Campinas, 2004