QUANDO AINDA ERA DIA...

               (a minha mãe Hilda, in memoriam)


Quando ainda era dia
e as nuvens passeavam no céu,
eu ouvia tua palavra,
por mais cansada que estivesses.
Estavas ali com teu coração,
então minha angústia se calava
porque a tua palavra  era prece.

Quando ainda era dia
mas a chuva desmanchava meus sonhos
sempre estavas ali 
carregando em teu colo não os teus,
mas os meus abandonos.

Quando ainda era dia
e meu olhar parava nas distâncias
fitando o nada do horizonte
inocentemente me perguntavas
- O que estás vendo tão longe?

Depois a noite desceu
sobre os nossos jardins,
sobre os teus canteiros,
as tuas hortaliças.
O galo não mais cantou.
Os  espinhos sorriram  pra  mim.
A alegria me perdeu de vista.

Aninhou-se  no mais alto da árvore
um pássaro chorando na tarde.
E os anjos te envolveram no ocaso
de tua própria luz
como Verônica envolveu em seu braços
o lenço que roçou o rosto de Jesus.


(Direitos autorais reservados).



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