Saudade...

Às vezes vivo no silêncio à procura de certos gritos envolventes.

Às vezes vivo nos gritos à procura de um silêncio.

Nessa insensatez de dizeres, procuro um júbilo em meio aos tormentos.

Às vezes eu tento orar, mas meus calos não permitem mais que eu ajoelhe; minha mente não permite mais que eu tenha uma ligação interna.

Às vezes tento viver só na saudade, mas talvez eu morra pela saudade.

Insulto que não cabem mais em mim os meus consentimentos

Às vezes eu parto, mas logo não resisto e volto.

Talvez eu tenha medo de partir. É aquele medo de deixar algo para trás.

É como partir e deixar seu coração. E como viver sem coração?

É como partir e levar o coração, mas vazio.

Quando algo se parte, é porque conduziu a saudade.

Às vezes olho na janela à espera de boas novas chegarem.

Às vezes me desanimo e vou à estação para o trem pegar,

Mas logo bate a saudade, e eu volto a esperar.

Às vezes vejo a vida vazia, como alguém que passa em necessidade e abre a porta da dispensa, mas se depara com o nada.

Às vezes vejo que as palavras são inúteis, pois de nada me serviram. Estou com fome de saudade.

Saudade é como arrancar algo de você, sem ao menos ter lhe dado um adeus.

Pior que não ouvir um adeus é perceber que não existiu muito menos um até logo.

Saudade é a lembrança grata da pessoa ausente ou de alguma coisa da qual alguém se vê privado.

Saudade é quando você olha ao retrato e se vê distante de si mesmo.

Mas nesse sol que não me mata de calor e muito menos aquece desse frio...

O que seria de mim? Apenas um elo de saudade? Pois saudade é como compor algo para alguém, sem saber se irá ouvir.

Saudade é pensar sem ter.

Saudade é querer, mas não ter.

Saudade é um estado de separação. É como deixar as mãos se escaparem.

Saudade é chorar, mesmo que em nada mais haja sentido.

Saudade é querer um abraço, mas não tê-lo.

Saudade é sorrir, mas sem ter este alguém para dividir.

Saudade é uma dor que estremece a carne e parte a alma.

Saudade é perguntar por que... E não obter respostas.

Saudade é um vazio que talvez nem o tempo preencha.

Saudade é saber que o amanhã poderá ser tarde, pois a vida continua. O ontem poderá já fazer tempo...

Saudade é ter uma rosa às mãos e não ter alguém para entregar, e muito menos um vazo em que colocar.

Saudade é implorar para Deus...

Saudade é aprofundar-se num mar de lágrimas.

Gritei as veias do meu coração de tanto me entufar pelo que proclamo.

Às vezes calamos na voz, mas gritamos na alma.

Às vezes o deserto é um lugar habitável, mas só para aqueles que não sentem sede de saudade.

Os conflitos nos agigantam, e fazemos perguntas sem saber as respostas. As respostas são a motivação dos bons momentos.

E, neste atual momento, o que sobra? Apenas um pudor líquido sob um sentimento que corrói,

E, ao mesmo tempo, mata.

Saudade é tocar um instrumento para um palco vazio.

Uma vontade louca de estar junto, mas não poder...

Nessas horas é que entra aquele ditado: “Poder não é querer”.

Saudade é olhar de longe, mas com a vontade de olhar de perto,

E, mesmo assim, poder não é querer.

Neste momento, penso que a saudade seja um talvez;

Nem um sim, nem um não: talvez.

Pois só o talvez nos dá uma margem segura, e a incerteza é a nossa segurança.

A saudade sorri pra mim neste momento e se mostra vazia;

Tão vazia quanto eu; tão vazia quanto tudo que rodeia o pensamento humano.

A saudade está no futuro das coisas que eu nunca verei.

Sabe aquele abraço que falta, aquele sorriso que não sai, aquela fala que fica travada?

Os avessos se encontram exatamente naquilo que queremos encontrar.

E quando falta a nossa cara, vem a cara daquilo que mata o nosso ser por dentro.

É a saudade que corrói as têmporas, como víboras, como vermes encovados.

A saudade que comanda os pensamentos, que os leva ao vazio e à solidão.

A solidão é tudo que me sobra, e, dela, eu não sinto falta.

Sim, os conflitos nos agigantam, mas quem se importa?

De conflitos, estou farto. De respostas, eu me dano.

Saudade é sentir um abraço só quando de olhos fechados,

Pois, quando os abro, vejo que o que me abraça é o nada.

Quero mesmo é um abraço de urso e/ou um abraço de amigo.

Um abraço de amor.

Sinto saudade. É! Saudade de tudo.

De tudo aquilo que não sei dizer, que não vi, que não conheço, que não me importo,

Ou de você, que é o oposto de tudo.

Renato F. Marques

Renato F Marques
Enviado por Renato F Marques em 08/12/2011
Código do texto: T3379040
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