DEVANEIOS (Poema para Basilissa N. 1.640)

(Sócrates Di Lima)

Passa o tempo como lâmina afiada,

Que rasga, corta, sangra e castra,

Como a incisão de uma navalhada,

Faz escorrer na alma o sangue que se alastra.

E lacrimeja o coração na volúpia mórbida,

Da cantiga que se ouve além canteiros,

Leva nas asas de uma palavra sórdida,

A imagem póstuma dos dias trigueiros.

Ah! Que malfadada sorte absolve a liberdade,

Fa-la viajar no tempo na rota do Sol,

Aonde a luz cega os olhos da saudade,

E deixa rastros de sombras no viul arrebol.

Cântico de pássaros no hino da despedida,

Que torce e retorce a sensibilidade do amor,

Traz ao coração a intrépida fadiga,

Que a saudade deixa no olhar de uma flor.

Então cerro as pálpebras do clarão celeste,

E deixo levitar o meu pensamento,

A torpe saudade minha alma veste,

E reveste de tédio cada momento.

Casso o momento de insanidez perene,

Abro os portais da minha absorvição,

Mesmo que mãos aflitas me acene,

E deixo o destino abrir o meu coração.

E se eu voltar desta viagem calvária,

Retorno a via sacra dos meus pensamentos,

E abraço o amanhecer na volúpia imaginária,

De ter a saudade aos pés como escrava dos meus sentimentos.

Há que os devaneios me divagam,

Numa manhã doída de um dia vago,

No anseio torpe das minhas lembranças que vagam,

E que ora me tomam, me devoram e delas me embriago.

E se eu divago em devaneios sem fim,

É porque minha amada voou do meu jardim,

E mesmo que isto por ora não tem fim,

Basilissa ainda está queimando dentro de mim.

Socrates Di Lima
Enviado por Socrates Di Lima em 27/11/2011
Reeditado em 06/02/2012
Código do texto: T3359015
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.