Saudades dela

Tu que tiveste aquele berço

Onde eu também fui batizado,

Oh minha amada, tens no verso,

... Um outro berço em que disperso

Todos os bens do meu cuidado.

Junto de ti, no berço antigo,

Uma mulher boa cantava;

E seu olhar, cheio de abrigo,

(De certo, o olhar mais teu amigo)

Insone e a sós por ti velava.

No berço de hoje eu sou quem canta

Longe de ti - todo ansiedade -

E esta canção, embora santa,

Tem outros sons, menos te encanta,

Porque é canção só de saudade!

Tudo d'aqui, por partiste,

Tudo me quer acompanhar,

Chorando a tua ausência triste.

Melancolia em tudo existe:

Nos mares... nos rios... no ar...

O Sol não dá mais alegria...

Todo o prazer está findado.

Não diz a brisa o que dizia.

Só nos trazendo uma elegia

De vozes saudosas do Passado.

Pelo jardim, todas as flores,

Na compunção fria de um monge,

Já vão perdendo as suas cores,

Como a dizer entre amargores:

- Ela está longe!... Ela está longe!...

Pássaros há, que, com tristeza,

(Tristeza tal que ainda não houve)

Não cantam mais, numa voz presa,

Dizendo só, pela devesa:

- Ela não ouve!... Ela não ouve!...

Estrelas vão, mudas, em bando,

A olhar me la dá infinda umbela...

Vão palpitando... e palpitando...

Como que só me perguntando;

- Onde está Ela?... Onde está Ela?...

ROGERIO WANDERLEY GUASTI
Enviado por ROGERIO WANDERLEY GUASTI em 26/11/2011
Reeditado em 27/11/2011
Código do texto: T3358149
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