Deterioração pela saudade

Que grandíssimo fardo ter que sofrer todos meus delírios

hoje eu ando te procurando em fotos que tiraste, tão belas

sabendo que eu não estava ao seu lado em nenhuma delas

eu tenho uma importância tão permanente quanto os lírios

pergunto-me se todos sentimentos por ti foram sentidos em vão,

a Esperança quase louca sussurra com voz rouca "claro que não"

A ciência geográfica torna impossível o nosso contato direto

embalando nos alcalóides biológicos da memória toda uma rotina

de repente, algum espelho mal polido mostra minha cara mofina

eu era um fantasma, lentamente regressando ao estado de feto

estava super assustado: a forma branca, era minha própria vitima

a alma confusa tratava sua carne como se fosse uma mãe ilegítima

Será mesmo que havia necessidade desse singularíssimo processo

de forçar, sem uma razão aparentemente sã, o estranho regresso?

Era a pintura artisticamente rica com as cores radiantes de moço

eu nunca reclamei a necessidade humana do uso de uma borracha

pois ninguém acharia erros naquele belo projeto, que hoje se acha

como se as linhas estivessem tortas desda fase inicial do esboço

Com toda força falava “a benção da racionalidade vira em breve”

e embora eu reconhecesse necessidade dos frutos dos trabalhos

os brados pela estabilidade da minha mentalidade eram falhos

bati nos sinos pendurados em sua casa, ela estava em greve

a única opção que eu tinha era de aceitar a loucura de assistir

o pavimento da rua que levava ao sanatório que deveria seguir

Prevendo que seria fatal a aparentemente irregressível decadência

da qual ambos meus olhos míopes me davam uma inegável ciência

já na loucura, pois estava cambaleando a minha química cerebral

procurei sem saber direito onde uma maquina fotográfica qualquer

e tentava criar alguns símbolos do meu passado contigo, mulher

pois se eu não tinha mais existência, a nossa história seria irreal!

A foto saía com lentidão e fitei os meus olhos em um aspecto

surpreendentemente transparente: a timidez de um espectro

finalmente aceitei o único destino: fugir . Em nada me entusiasma

usar ondas sonoras de urros e sussurros como uma comunicação

ser a conseqüência de uma existência vazia de qualquer emoção

saber que não tenho rosto, só a nuvem metafísica do fantasma

Ernani Blackheart
Enviado por Ernani Blackheart em 15/11/2011
Reeditado em 23/12/2011
Código do texto: T3338176
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