Deterioração pela saudade
Que grandíssimo fardo ter que sofrer todos meus delírios
hoje eu ando te procurando em fotos que tiraste, tão belas
sabendo que eu não estava ao seu lado em nenhuma delas
eu tenho uma importância tão permanente quanto os lírios
pergunto-me se todos sentimentos por ti foram sentidos em vão,
a Esperança quase louca sussurra com voz rouca "claro que não"
A ciência geográfica torna impossível o nosso contato direto
embalando nos alcalóides biológicos da memória toda uma rotina
de repente, algum espelho mal polido mostra minha cara mofina
eu era um fantasma, lentamente regressando ao estado de feto
estava super assustado: a forma branca, era minha própria vitima
a alma confusa tratava sua carne como se fosse uma mãe ilegítima
Será mesmo que havia necessidade desse singularíssimo processo
de forçar, sem uma razão aparentemente sã, o estranho regresso?
Era a pintura artisticamente rica com as cores radiantes de moço
eu nunca reclamei a necessidade humana do uso de uma borracha
pois ninguém acharia erros naquele belo projeto, que hoje se acha
como se as linhas estivessem tortas desda fase inicial do esboço
Com toda força falava “a benção da racionalidade vira em breve”
e embora eu reconhecesse necessidade dos frutos dos trabalhos
os brados pela estabilidade da minha mentalidade eram falhos
bati nos sinos pendurados em sua casa, ela estava em greve
a única opção que eu tinha era de aceitar a loucura de assistir
o pavimento da rua que levava ao sanatório que deveria seguir
Prevendo que seria fatal a aparentemente irregressível decadência
da qual ambos meus olhos míopes me davam uma inegável ciência
já na loucura, pois estava cambaleando a minha química cerebral
procurei sem saber direito onde uma maquina fotográfica qualquer
e tentava criar alguns símbolos do meu passado contigo, mulher
pois se eu não tinha mais existência, a nossa história seria irreal!
A foto saía com lentidão e fitei os meus olhos em um aspecto
surpreendentemente transparente: a timidez de um espectro
finalmente aceitei o único destino: fugir . Em nada me entusiasma
usar ondas sonoras de urros e sussurros como uma comunicação
ser a conseqüência de uma existência vazia de qualquer emoção
saber que não tenho rosto, só a nuvem metafísica do fantasma