Flashes Psicodélicos
Vinte e um de junho de mil novecentos e sessenta
de um digito qualquer
(minha mente adulta
já não divisa detalhes
de minha mente infantil).
Um passado perdido no tempo,
Uma lembrança diluída na memória.
Hoje só alguns flashes deste tempo vivido.
Cenas.
Palavras.
Cheiros.
Sons.
Seis horas da tarde.
No rádio ‘ave-maria’ causando-me melancolia.
Alta tarde, baixa noite.
Luzes apagadas.
Porta aberta convidando a brisa a passear pelo corredor da casa.
Cortina fechada,
Estampada de verde, preto e branco,
(como os ladrilhos – tabuleiro de xadrez em 3D )
bolinada pelo suave e entrão vento.
Na cozinha, luz acesa,
Fogo na lenha.
“hoje é o dia mais curto
e a noite mais longa”.
Afazeres domésticos misturam-se com deveres escolares.
O fogão à lenha cozinhava e aquecia,
Era também lareira.
A mãe preta lavava vasilhas,
A avó enxugava pratos,
A irmã enchia a velha caneta-tinteiro
E o irmão batucava seguindo o ritmo da canção radiofonada
(a ‘ave-maria’ já tinha passado com toda sua ladainha).
A mãe remexendo as cinzas e brasas do fogão,
O pai ausente,
E eu ali,
Testemunha criança
de uma época que o rádio,
a televisão,
O Cruzeiro,
Capricho
e o Sétimo Céu
Diziam psicodélica, mora?!
(até as revistas pornográficas
de meus irmãos juravam,
engomadas todas)
FLASHES.
L.L. Bcena, 21/06/2000
POEMA 550 – CADERNO: GUERRA DOS MUNDOS.