NO COLO DA POESIA
(Sócrates Di Lima)
A saudade não é o bastante,
Para fazer voltar um amor,
Pois, o mais importante,
É na presença não causar a dor.
E se o fato se faz, a saudade é o lamento,
Fechado nas cortinas da distância,
Não chega a ser tormento,
Mas faz em si a desolada vacância.
É quando o Sol se abre mansinho,
No limiar do dia que chega,
Levando ao seio da noite ali no seu ninho,
Onde o poeta sozinho ao insano se apega.
Ao choro que não tem cor de tristeza,
Nem as dores da solidão,
É o choro da saudade em leveza,
Que toma posse do coração.
E ao fechar dos olhos a imagem grita,
No olhar lacrimejado da dor da ida,
Na voz embargada que no peito agita,
Se fecha no labirinto da vontade reprimida.
Ah saudade! Que nos cantos silenciam,.
Trazem e levam o melhor de mim,
Mas, na volúpia presa as vontades se fecham,
Selando na saudade a espera sem fim.
É como cair em nua pele no seio da água fria,
Caminhar descalço rente ao mar em noite só sua,
Ter na mente a imagem do rosto em poesia,
Da mulher amada vestida de Lua.
É o poeta que inquieto se retem no silêncio da Lua,
Morrendo aos poucos nas correntezas das vontades frias,
Que congelam a alma longe dos palcos da rua,
E sozinho calado adormece no colo das poesias.