O soft, hardware da memória
Meu disco rígido tem memórias,
que não posso deletar,
honestas e ímprobas histórias,
será que me atrevo contar?
Moleque dando pinotes,
ao pé-da-letra, um cagado,
a ilusão passando trotes,
num Dom juanito frustrado.
Prazeres que eu não dei,
Não soube ler o apelo,
E as frutas que roubei,
Sentindo gozo ao fazê-lo.
Manchas que perdoadas,
Ainda dói só de lembrar,
Chances desperdiçadas,
Terrenos a conquistar...
“Como era verde meu vale”
Li tudo, sem nada entender,
Vá que numa dessas se instale,
Em nós o vírus do gosto de ler.
Claro que há umas conquistas,
Meu fajuto ouro de tolo,
Meros simulacros de artistas,
Já embalavam meu consolo.
Tem entrevista do Menotti,
Vangloriando a Argentina,
Agudos do Pavarotti,
Sorvidos em taça fina.
Tem ruptura de lacre,
Sem saber que era terra santa,
Instinto arando um acre,
Semente perdida, quanta...
Se agora desfragmento,
Só tento ordenar o espaço,
Meus erros foram fomento,
Motriz do que ora faço.