MALDITA CHAGAS
Olhando o rosto de minha avó
Senti uma ternura imensa
Seus cabelos branquinhos
Parecem uns flocos de algodão
Rugas profundas no rosto
Caminhos de uma vida inteira
Seus quase oitenta anos
Por esse mundo afora...
Soube de sua história por ela mesma contada
Mulher valente, que não se dobrou pela dor
Trabalhadeira nunca se deu por vencida
Na roça foi um exemplo
Criando gado, cuidando da casa e dos filhos
Saiu da sua terra ainda bem moça
Chegando em Goiás por volta de 1932, com a família
Esposo, quatro meninos robustos e uma tenra bebezinha.
Compraram uma fazenda,
O Cafezal...
Era o sonho de fazer fortuna plantando e criando gado
Mais naquela casa de pau a pique
Onde foram morar até outra construir
Teve sua decepção...
Encontrou no quarto das crianças
Os malditos barbeiros
Começou ai o grande pesadelo
Em pouco tempo os meninos começaram ter sintomas
Era a chaga que já se manifestava
Venderam a fazenda foram embora pra cidade
Trataram dos filhos como puderam
Mais um a um os enteraram
Minha mãe a caçula teve sorte
Ficou moça ,se casou ,foi mãe
Mais também um dia a sepultei...
Levada pela maldita chagas.
Sonhos, vidas perdidas entre caminhos
Um espírito persistente
Numa alma, quase inocente
Que viveu sua história cumpriu seu destino
Sem reclamar, só soube amar.