Castorina faria....

Na Rua Castorina

Faria Lima

Composta de blocos

De apartamentos pequenos

Azuis ou amarelos

Vejo crianças de colo

Crianças coloridas

Percebo percevejos nas amendoeiras

Percebo Amêndoas pelo chão

Mordidas pelos morcegos

Ou desprezadas

Pelos pré-adolescentes

Que gritam palavrão

E jogam bola de conga

Ou de ki chute preto

No jardim da dona Amélia

Na janela da dona ercilia

E vêem risonhas

O andar do guarda Belo

De cassetete na mão

E correm ávidos

Vadios...

Quando ouvem a buzina do walcir

Anunciando pra eles

E pra vizinhança

Que chegou à hora do pão

Doce, do sonho.

E do quindim

Na Rua Castorina Faria Lima

desnivelada

Desconhecida ruazinha

Da prazerosa ilha do governador

Por onde meu avô comunista Lafayette

Resolveu um dia morar

Eu ainda consigo lembrar do cheiro

De toda sexta feira

Ao meio dia

Era peixe frito

Da dona cordélia ou filhinha

Concorrendo com a carne assada

De minha mãe Henriqueta

Ainda lembro

Dos dias de malhar o Judas

Em que a turma toda se reunia

Lá perto do valão

Ainda lembro

Dos dias festivos

De são Cosme e Damião

Era aquela correria

Ainda lembro

Os dias de carnaval

Sempre coloridos

Onde quem não tinha fantasia

De Clóvis ou bate-bola

Era vitima

Era obrigado a bater em retirada

Em direção ao aconchego de casa

Na Rua Castorina Faria Lima

Passei minha infância

Entre o pique - esconde

Por entre as arvores e roseiras

E as corridas incabíveis dentro do pilotis

Entre as peladas no triangulo

no vilagge e no Gurgel...

E as pedras arteiras arremessadas

Sobre a indefesa Aerobita

Como era bom esse tempo

Em que eu não me preocupava

Com o tempo...

Como era bom não saber

Que a existência era tão pequena...

Como era bom.

Mathias Moreno
Enviado por Mathias Moreno em 17/09/2011
Código do texto: T3224390