As Palavras de Seu Pai (Mulher, não chora...)
Quando criança nunca precisou de livros
Desprezou os que tentavam lhe apresentar o mundo
Ansiou isto sim, por aquelas palavras precisas
Com suas verdades incontestáveis
Aprendeu sobre todas as coisas assim
Ouvindo o Pai, atenta menina sem pressa
Seu herói era perfeito, ninguém sabia mais de nada
Ainda mais que o amor transcendia as palavras
E rodopiava pela casa tornando-se em beijos
Abraços apertados, colo e aviãozinho
Então o tempo trouxe consigo outras palavras
Com ares de novidade e sabedoria falsa
E plantou na jovem rebelde desconfiança
A mulher que julgava saber o mundo por inteiro
Sob os protestos insistentes da menina
Passou a ouvir cada vez menos a voz dele
Um dia ele se calou, de repente.
Restaram somente as outras vozes, as vazias
E desesperada ela procurou reconhecer nas outras
Ainda que apenas um sussurro daquela voz
Que lhe iluminou a infância e guiou a juventude
Inútil foi que ele, agora, só falava aos anjos
A mulher tão segura tornou-se triste figura
E o seu mundo arrogante ruiu naquele instante
Mas eis que justo a menina estendeu-lhe a mão
Disse que não mais chorasse e que as palavras dele
Se desejasse encontrá-las, buscasse no coração
Que por trazerem tanto amor e que por serem tão fortes
Desafiariam a dor e enganariam a morte.