Infância
Quanta lembrança eu trago
Do alvorecer da minha infância,
Da minha doce esperança
Do tempo de outrora!
Dos amores que foram embora,
Daquele pôr-do-sol ligeiro,
Da luz do meu candeeiro,
No canto da sala a brilhar!
Como são lindos os primeiros
Dias de vida!
- Exibe pureza na alma
Como a flor no jardim;
A natureza é – botões se abrindo,
O amor – a verdade reluzindo,
Os pais - uma segurança tranqüila,
O mundo - um sonho a esperar!
Que amanhecer, que estrela, que esperança,
Que por do sol melodioso
Naquele delicado regozijo,
Naquela simples brincadeira!
A atmosfera enfeitada de sonhos,
O solo abarrotado de bálsamo,
As maretas invadindo a praia
E a chuva molhando o cerrado!
Oh! Que saudade da minha infância!
E da atmosfera de três-marias!
Que felicidade era meu tempo de criança
Naquelas manhães hílares que eu vivia!
Em vez de tristezas só havia alegria,
Eu tinha sempre esperança,
Mesmo com toda a rebeldia,
De um mundo melhor construir um dia.
Filho do pantanal, eu era feliz,
De short rasgado na bunda,
Cabelos de corte mal feito,
- Pé no chão, descamisado -.
Correndo pelos prados meio sem jeito
Nadando no riacho contaminado,
Atrás das marias-moles
E dos bagres meio azulados!
Naquela era bem-aventurada
Eu ia trabalhar no roçado,
Subia e tirava os jambos,
Brincava de namorado;
Com meu pai rezava o Terço,
Achava tudo enluarado,
Feliz adormecia
E não me preocupava com nada.