TELA ALVA DE DUAS FACES...
Traz-me a calma. A alma minha. De volta.
Alma essência. Anda contigo.
Deixou-me. Faz tempo. Nem sinto falta. Não dela.
Imensurável saudade. De ti. De mim contigo.
História em pedaços. Mal cortados. Tesoura cega - Vida.
Nada remontado. Apenas retocado. Explicado. Perdoado.
Bem verdade e humildade.
Bem humanidade na relatividade dos erros.
As máscaras… deixamos lá. Nos carnavais da tua infância.
Não precisamos mais. Nunca mais.
Crescemos. Você. Eu. Ela.
Choramos. Causas quase comuns.
Apenas ópticas diferenciadas.
Mesma essência. Mesmo leite o derramado.
Desarrumado o pensamento outrora.
Inverno rigoroso. Tempestade e frio. Muito frio.
Tempo… Outono seca. Sara.
Sara desertos e transforma em flores. Amores. Cores às dores.
Dores? … Onde estão as dores?
A tinta cobriu. Àquelas… as antigas.
Tintas que escorrem do Céu. Das mãos de Deus.
Gotas que curam. Tintas. Sopram os anjinhos assim.
Cobriu, não. Desfez. Desfaz-se na tela alva do tempo. Da fé.
E continua. E escorre pelas calçadas da idade minha. Tua.
Pelas mãos que refazem histórias. Que recomeçam sempre.
Idade da VIDA. Não a que conta-se para a morte.
Morte. Já morri tantas, tantas vezes.
Morri de amores. De dores. Morri por ti e por mim. Por ela.
Eu morreria por ti quantas telas alvas houvessem a pintarmos.
Cobriríamos de tintas alegres e fortes.
Fortes como nós dois.
Nós três. A outra parte dorme ainda. Morro ainda.
Dorme numa tela alva apenas sua. Não fui convidada ainda a esta.
Aguardo. Ansiosa. Inquieta.
Mas trago comigo sempre esta certeza.
Vamos pintar os três, juntos. Uma tela de três. Três Amores. Sem dores.
Não apenas uma tela de dois. Como hoje.
Às vezes canso-me dos seus conceitos formados sobre tudo.
Canso-me da sua ausência de relatividade. Tudo a ela só tem a sua verdade.
Mas sou paciente. Só porque sou mãe.
De resto… não tenho mais tanta paciência assim.
Eu nem sei mesmo pintar. Não a três. Ainda.
Mas pinto à dois. Com duas faces.
Uma linda… de dois. Esta vemos juntos. Os dois.
Outra, triste… de dois faltando um.
Esta apenas eu posso sentir. Não te permito. É apenas minha.
Esta face. Saudade.
Igual espera no terminal de uma estação.
Está tudo pronto. Que horas são?
Está tão atrasada… São aqueles lindos cabelos a desalinhar.
E as idéias.
Karla Mello