ESTÁGIO DA DOR!

Ela carecia de afeto.

A maquiagem pesada

Escondia a enrugada face.

O desalento do abandono

Fora cruel para com ela.

Os convites haviam cessado.

A rejeição ardia na alma.

Sua imagem que fascinava,

Agora causava repugnância.

Noutros tempos era narcisista,

Mas frente aos árduos tempos,

O espelho era algo assustador.

Acercava-se de cosméticos.

Era a forma delicada

De prolongar traços joviais.

Não se lembrava com clareza

A última vez que fora solicitada.

Olhou de soslaio, temerosa, tensa;

Tentando ocultar sua imagem.

O reflexo era deprimente.

O cabelo mal tingido,

O corpo flácido e cansado,

Causou-lhe um tremor nas mãos.

Pensou em despedir-se da vida.

Era covarde, incapaz de suicidar-se.

Toda uma vida de total entrega

A um amor não correspondido.

Quando ainda bela,reclamava

Por sentir-se a outra no relacionamento.

Agora lhe faltava identidade.

Uma vida em vão, subtraída.

Pensou que com sorte, receberia

Com extremado prazer

O aroma nefasto em bolor;

Que antecede à gloriosa presença

Da almejada e bem vinda morte,

Talvez um soluço conformado

No último estágio da dor

Paulo Izael
Enviado por Paulo Izael em 04/07/2005
Código do texto: T30951