(Quando eu era ainda jovem, tive oportunidade de ler alguma coisa escrita por JG. de Araujo Jorge, um poeta acreano que escrevia em versos  e com rimas perfeitas, daí a gratificante influencia na minha forma de, vez por outra, expressar em rimas e falando do amor sofrido, uma excelsa fonte de inspiração)

                 ABANDONO


                                                       Carlos Orlando
                               
Mais uma vez acordei no meio da madrugada.
A penumbra do quarto, os lençóis, a cama vazia.
Lá fora, a chuva fina a tornar a noite mais fria.
E eu, sem mais dormir, o resumo de mim é o nada.

 
Distante, o som de um bordel me chama a atenção.
Um bolero latino, que diz da angustia e da dor,
Faz aumentar em mim, ainda mais o amargo sabor,
Do abandono, do desespero, da tristeza e da solidão.


As horas lentas e lá fora, finalmente o silencio da rua.
Mais uma noite, sem dormir, uma espera infinita.
O terço na mão, a oração a advir de uma alma aflita.
Somente Deus pode trazer de volta a presença tua.


Finalmente o dia vem nascendo como uma criança.
Amanhece, a luz do sol a brilhar pela janela aberta;
As pessoas a preencher os espaços da rua deserta.
Meu rosto abatido, porem no íntimo uma esperança.


Quando voltares, linda, eu feliz te chamarei rainha.
Quero te ver chegar a mim, sem mágoas e rancores.
O teu perdão vai aliviar para sempre minhas dores.
Arrependido, nos teus pés, te farei somente minha.