Eu Canto a Saudade

É a saudade que aperta o meu peito,

que me oprime, tritura, molesta...

Para mim faz careta de festa

e, zombando, me faz mais pungente.

Sentimento que, deixa-me mórbido

sem quimera de ser tão feliz,

a Deidade que beija e bendiz

o poeta que sente, que sente...

Ela enfia em meu peito uma estaca

arrancando qualquer alegria;

do sorriso – uns encantos, magia...

Que, faziam-me ter muito amigo.

Hoje o pranto me sai facilmente...

Os meus versos tristonhos, sofridos

fazem todos chegados queridos

mais distantes; não choram comigo.

Eu me lembro de ti, meu amigo!...

Os sorrisos que juntos nós demos,

as piadas e peças – fizemos

a lembrar do menino Jesus;

e de quando saíamos juntos

para o mato e na bica de água...

Não havia o doer desta mágoa,

a ferida plangente e com pus.

Eu me lembro dos dias passados

e dos jogos que nós dois jogamos,

logorreias que tanto falamos,

mas que muito fizeram de nós

os mancebos mais ledos do mundo

alegrando qualquer companheiro.

Eu me lembro de tudo, parceiro

que até chega embargar minha voz!

Eu me lembro de ti, minha amiga!

Tão leal e fiel confidente,

que em momento tristonho ou contente,

abraçava-me e ria pra mim.

Quantos dias passaram amiga

que a distância e o maldito destino

Separou-nos?... E agora o meu hino

é lembrar-me com pranto carmim.

Eu me lembro de ti, meu amor!...

Teu carinho – que doce! – atenção:

e ficava alisando co’ a mão

o meu rosto no claro luar.

E, beijando-me com a ternura

no pedaço de um tronco deitado,

onde eu fui um herói coroado,

na ventura de teu doce amar;

quando a noite pesada de inverno

nos fazia brotar mil lamentos,

revelando pra nós sentimentos

que nunca tivemos na vida.

Onde víamos tudo com brio:

os canteiros, nos campos – as flores;

as estrelas; dos corpos – odores

que a paixão sugeriu-nos querida;

quando em ti eu afogava o meu pranto;

quando tu me entendias querida

suportando uma dor tão sofrida:

e também o meu ombro era teu...

Quando o sol se inclinava distante

e no tálamo férvido nós

sussurrávamos quase sem voz:

– Nosso amor é tão lindo... Oh! Meu Deus!

Dou adeus para ti meu amor;

dou adeus aos passeios contentes,

as histórias felizes e gentes,

dou adeus para sempre equidade.

Mas que saibam amores da vida,

meus amigos gentis, minha amiga:

que o presente que tanto castiga

é a deidade chamada Saudade.

Cairo Pereira
Enviado por Cairo Pereira em 27/06/2011
Reeditado em 10/10/2012
Código do texto: T3060979
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