Antigamente

A minha rua, antigamente, era muito legal!

Não tinha regras, não tinha proibições,

não tinha mão e muito menos contra mão.

Era desnuda e tinha a cara suja de terra.

Da mesma terra que se faziam os quintais,

que infelizmente hoje não existem mais.

A gente conhecia os vizinhos de ponta a ponta.

A meninada pulava corda, apostava corrida,

brincava de esconde-esconde, faz de conta

bolinha de gude, corre cotia, pega-pega,

e no fim de semana, valendo tubaína,

desafiávamos a rua de cima a jogar contra.

Naquela época tinha fogueira de São João,

pipoca, batata doce, bolo de fubá, quentão,

busca pé, fósforo de cor, peido de “véia” e rojão.

Tinha o tintureiro, o carvoeiro, o padeiro

e no mês de Setembro a festa do Padroeiro.

Tinha o vendedor de biju, o vendedor de torta

e um turco baixinho, que nunca mais eu vi,

que vendia roupa baratinha de porta em porta.

Tinha uma espanhola boca suja e malcriada

que morava ao lado de uma casa mal assombrada.

Tinha as nonas com suas cadeiras na calçada,

revoadas de pardais, andorinhas e colibris

e os homens de dentro de seus paletós

discutiam entusiasmados política e futebol

nas noites quentes infestadas de siriris.

A minha rua tinha a cara de menino sapeca,

onde o bem estava sempre acima do mal.

A minha rua era ordeira, sossegada e acolhedora.

Ela tinha o aroma e o sabor de poesia matinal.

Ai, que saudade eu tenho da turma da minha rua!

Uma rua que antigamente era muito legal!