Primavera alheia
26/09/10
Moro em uma terra que não é minha
Deixei minha cidade natal na primeira oportunidade
Aqui só trabalho e estudo, tenho poucos conhecidos
E dos amigos antigos sinto demasiada saudade.
Não nego que já saí bastante em outros tempos
Era muito difícil me encontrar em casa,
Mas nos fins de semana estava na minha terra
Talvez por isso não desse tanto pela falta
Das pessoas que por lá um dia deixei.
Mas há tempos não piso o solo da terrinha
E uma saudade absurda toma conta de mim,
Mas não era essa a vida que eu queria?
Leio uma frase que me manda curtir a primavera
Há três dias ela começou, mas está diferente
Começou com chuva e muito frio
Sem sol gostoso, flores e o sorriso da gente
Acredito que até a primavera esse ano murchou.
A vida está vivendo diferente e deprimida
Sem alegria e aquele humor meio que estranho
Parece sempre cabisbaixa, angustiada, oprimida.
E como eu posso aproveitar a primavera
Se moro numa cidade sem vida?
O verde daqui parece cinza aos meus olhos
Não há vida longe da minha terra querida.
Saio na janela e vejo casas e pessoas feias
Nem um rosto conhecido ou por mim amado
Estou na terra dos outros, em casa alheia
Ocupando o emprego, a escola, o espaço
De alguém que é filho desta terra ingrata.
Não me interessa suas cachoeiras e serras,
As belezas que apregoam aos quatro cantos
Meus olhos suas maravilhas não enxergam
Para mim seu belo rio é apenas um esgoto
A cortar a cidade como um mar de lama
Sujo com a hipocrisia e o orgulho dos filhos
Dessa terra amarga que a ninguém ama.
Parece ingratidão da minha parte, eu sei
Mas não consigo ser feliz aqui sozinha
Sei que é errado, mas preciso ter a quem culpar
Por uma decisão que foi somente minha.
Primavera boa mesmo é a da minha terra
Com ventos gostosos, sol, borboletas e flores
Uma beleza que não encontro em outro lugar
Somente na terra em que deixei meus amores.