O Portão

De longe reconheci o portão

que tantas vezes atravessara.

Num instante me assalataram

turbilhões de lembranças.

Entreaberto, o portão

parecia esperar-me.

O ferrolho desgastado pelo tempo

ainda era o mesmo.

a ferrugem marcara o tempo

e as dobradiças rangiam

ao sabor do vento.

Com hesitantes passos me aproximo.

Coração em descompasso,

mãos trêmulas.

Quanta vida além daquele portão.

Verdejantes jardins onde colhi

rosas para Maria,

musa dos meus primeiros versos,

meu primeiro beijo e o despertar

de adolescentes desejos.

O casarão era total abandono.

As paredes não resistiram aos ventos

e marcas não haviam no chão.

Nenhuma celebração.

O balançar das palmeiras

emitia sons de gemidos

e folhas mortas rodopiavam

pelo chão.

Onde as festas

e os instrumentos a tocar

melodiosas canções?

Aos meus ouvidos o som do silêncio

e do meu abandono.

Já não havia jardins,

nem flores,

nem Maria,

nem poesia.

Só então percebi

o quanto o tempo passou

e o quanto vivi.