Angústia
Nada vivi
Mas as rugas da idade
Já me consomem
Num processo de mutação corpórea
Minha metamorfose humana
Completa o ciclo de vida
De uma infância sofrida
Adolescência perdida
E juventude roubada.
O peso dos anos
Desfiguram-me as faces
Antes jovem
Agora enruguecidas,
Desolo-me ao vê-me no espelho
Nada vivi
E minhas lembranças juvenis
São tão pequenas
Que num segundo de brisa
Diante de mim todas passam.
Os calos em minhas mãos
Desfiguraram a inocência
Por causa da sobrevivência
Tive que me tornar operário
Enquanto os da minha idade
Pelas valas d’água corriam
Após a chuva que caia
Vivendo despreocupados
Com as incertezas que havia
Minha barriga roncava
E minhas lágrimas desciam
Era assim que me sentia.
Nada vivi
E meus dias
A cada dia regridem
E tantos sonhos estão em construção
O que fazer para cessar
Este tempo mórbido , ingrato
Que me rouba as primaveras
E me aproxima do entardecer da vida?
Não que envelhecer seja fútil
É que não desfrutei das pompas da vida
Não conheci ombros fortes
Ninguém chamei de pai
Em sendo assim
Metamorfose é castigo
Observo entristecido
Que minha história foi negada
Sou um velho livro
Com as principais páginas
Rasgadas!