Quando Eu Podia Voar

Quando era criança, sonhava, quase sempre, que podia voar.

Pensamento firme, concentração forte e lá ia eu: leve flutuar.

Devagarinho, com cuidado e atenção, sem sair do lugar,

tirava primeiro os pés do chão, com calma, sentando no ar.

Depois girava o corpo até conseguir aos poucos me posicionar...

e... com toda a vontade e liberdade que podia experimentar,

voava...

inicialmente em pouca altura, lentamente, par e passo... passo e par.

Depois com a confiança aumentando, vôos mais altos consegui alçar.

E assim eu passava a parte mais linda da vida, nadando pelo ar,

observando do alto os portadores de meu querer, de meu amar.

O tempo passou...

À medida que crescia, no entanto, sentia em meus sonhos,

que precisava cada vez mais esforço, para voar cada vez menos.

E assim, foi.

A dificuldade aumentava, até que um dia não mais consegui sair do solo.

Hoje trago os pés plantados no chão e no peito uma saudade forte, doída.

Não existem mais sonhos, nem vôos, nem rimas que me lembrem que eu podia voar.