AS ÁGUAS QUE MOLHAVAM MEUS PÉS
I
As águas que molhavam meus pés
Eram doces, transparentes;
Por elas podia-se ouvir o canto
Dos pássaros
Os passos livres dos bichos
As borboletas coloridas
As trilhas no mato, lugar
Comum
As Asas Brancas
As Fogo-apagou, Caldo de Feijão
A simplicidade do povo
E a verdade pura
Na pureza da imaginação.
O homem do campo.
Era.
O clarão da fogueira
A sanfona de Gonzagão
A força do sertanejo
Na braveza de Lampião.
Os nomes.
Os homens.
As mulheres destemidas
As filhas da raça
Povo forte
O trabalho, o corte da terra
As lições da natureza
A beleza da chuva
A molhar os olhos na oração.
II
As águas molhavam meus pés
Filho pobre de um homem
Forte
(como é forte o meu sertão!)
De um homem nobre
Raça e graça, cangaço e baião
Água límpida, pés descalços
Bicho solto no ancoradouro da
Liberdade
Obstinação, caminhar, fé
Humildade e candura;
Lisura nas marcas deixadas
Na história do chão.
As águas que molhavam meus
Pés, lavavam a alma;
Eternamente.