AS ÁGUAS QUE MOLHAVAM MEUS PÉS

I

As águas que molhavam meus pés

Eram doces, transparentes;

Por elas podia-se ouvir o canto

Dos pássaros

Os passos livres dos bichos

As borboletas coloridas

As trilhas no mato, lugar

Comum

As Asas Brancas

As Fogo-apagou, Caldo de Feijão

A simplicidade do povo

E a verdade pura

Na pureza da imaginação.

O homem do campo.

Era.

O clarão da fogueira

A sanfona de Gonzagão

A força do sertanejo

Na braveza de Lampião.

Os nomes.

Os homens.

As mulheres destemidas

As filhas da raça

Povo forte

O trabalho, o corte da terra

As lições da natureza

A beleza da chuva

A molhar os olhos na oração.

II

As águas molhavam meus pés

Filho pobre de um homem

Forte

(como é forte o meu sertão!)

De um homem nobre

Raça e graça, cangaço e baião

Água límpida, pés descalços

Bicho solto no ancoradouro da

Liberdade

Obstinação, caminhar, fé

Humildade e candura;

Lisura nas marcas deixadas

Na história do chão.

As águas que molhavam meus

Pés, lavavam a alma;

Eternamente.

INALDO TENÓRIO DE MOURA CAVALCANTI
Enviado por INALDO TENÓRIO DE MOURA CAVALCANTI em 06/04/2011
Reeditado em 06/04/2011
Código do texto: T2893781