ABANDONO calado
Abandona-me aqui, só mais uma vez.
Uma madrugada talvez diferente.
Com saudade e falta, que nunca senti.
E essa presença que nunca esperei,
Quando existia aqui dentro de mim.
Sempre tão calado, como solidão.
Não dizia nada, nem fazia falta.
Mas sempre ali, como imaginei.
Não tinha imagem, só era um abrigo.
Curtia, sonhava, e sorria comigo.
Se acaso chorasse, ou se precisasse,
Tinha um grande amigo.
Até quando vi você fora de mim.
E pude sentir o gosto do vazio.
Gosto da saudade, que nunca tivera.
Vi-te bater asas, começar voar.
Qual pássaro livre, junto à primavera.
Nem foi necessário, pensar em adeus.
Dois braços cansados, colados ao corpo
Dois lábios calados, para perguntar.
Se talvez teu corpo, numa noite fria.
Viria ao meu corpo, se aconchegar.
Quem sabe você fosse só fantasia.
Quem sabe um amor, que nem existia.
Ou doce ilusão, que o meu coração,
Sem nenhum motivo, ou qualquer razão;
Fazendo canção, tentou inventar.