INFANCIA ROUBADA

INFÂNCIA ROUBADA

Tive uma infância roubada...

Sem meus avós, tios e primos

Para brincar, ser mimada.

Meu pai, quase não conheci,

Vivia aqui e ali...

Envolto em seus tormentos,

Sem alegria... Lamentos...

Um dia Deus o levou.

E sozinha nos deixou.

Mas muito longe daqui.

Teve uma vida que não vivi...

Existia um lugar,

Onde havia alegria,

Era festa todos os dias!

Lá no alto da colina, uma casa cor de rosa,

De onde se avistava

Tudo que lá se passava.

Era toda feita de pedra,

Por mãos calejadas de escravos.

Lá em baixo, a tafona,

Para farinha fabricar,

E a todos alimentar.

Ao lado, a velha tulha,

Para nela se estocar

Os produtos que sobravam,

Ate a próxima colheita chegar.

O rio corria manso,

Onde as crianças brincavam,

Também ali as mulheres

As suas roupas lavavam.

Os filmes eram passados,

No velho projetor, mudo.

Mas era a diversão que existia

Naquele final de mundo.

Na minha infância roubada,

Não pude participar

Dos aniversários feitos

Á sombra dos laranjais.

Das páscoas... Ovos? Não ganhei,

Nem estive nos natais.

Depois de mulher feita, ao saber,

Daquilo que me privaram

Fui tentar recuperar,

O que não pude viver.

Foi com grande emoção,

Que conheci,

A casa feita de pedra,

Imponente, estava ali.

Na sala principal da casa,

Sentei na namoradeira

Que foi o palco de juras,

Estava lá, altaneira!

Bebi da água da fonte,

Entrei no velho galpão.

Via a moenda de cana,

Na minha imaginação.

O caldo de cana, o melado,

Escorrendo em minhas mãos.

Senti o sabor das lentilhas,

Preparadas por vovó,

E as latas de biscoitos?

Cheguei bem perto, roubei um.

Seu sabor era perfeito,

Até pareciam ter sido feitos,

Naquela mesma horinha.

E as árvores das bergamotas?

Os pinheiros e caquis?

Por que não estão mais ali?

Porque tudo se passou?

Restaram apenas lembranças

Das coisas que me foram contadas.

Lembranças apenas...

De uma infância roubada!

Edina Simionato
Enviado por Edina Simionato em 30/03/2011
Código do texto: T2879670