SAUDADES DE MIM!

Acho que o que sinto é Banzo.

Pois quando fecho os olhos, meio zonzo,

vejo auroras verde-vivas, brincadeiras viço-ativas,

sigo a voz, sinto a mão, adormeço em mãos gentis.

Sinto saudade de estar feliz!

Acho que saudade é harpa dissonante, é lira.

Pois que quanto mais ela me alveje e fira,

mais ainda em mim delira a impressão que tudo ainda é:

o rio, o trem, árvore de brincar, medo de assombração.

Sinto saudade da vida sem diapasão!

Acho que minh'alma empacou num sonho.

Pois quanto mais os vidros dessa janela arranho,

mais me embrenho, menos me tenho e me sinto esvoaçar;

algo assim, como quem vê de cima: pássaro, anjo guia.

Sinto saudade da vida que ardia!

Acho que reparti em atos a saudade dessa cena.

Porquanto, alma alguma é tão estática e pequena,

que não se encante, plante, doe, doa, ria, ame, cante.

Saudade é vida constante, é arte do ontem, é assim.

Descubro, agora, que morro de saudades de mim!

Tony Guedes

Tony Guedes
Enviado por Tony Guedes em 09/11/2006
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