Tuas digitais
A chuva compunha o soneto,
e os pingos faziam o refrão,
o vento a balançar teus cabelos,
eu lhe dava atenção.
As taças de vinho no carpete,
os corpos defronte a lareira,
o fogo aquecia a sala,
as roupas sobre a cadeira.
As juras, beijos, promessas,
O ato, o fato, o desejo,
tudo se dissolveu,
depois do último beijo.
Ainda guardo comigo,
as tuas digitais,
no corpo, na sala, no teto,
e nas taças de cristais.
Ainda guardo comigo,
o teu gosto em minha boca,
o teu cheiro no carpete,
a tua santa face louca,
teu olhar que incendeia,
teu abraço como teia,
que me prende e me enlaça,
não importa o que eu faça,
o teor da tua boca,
impregnado naquela taça.
Para sempre, até que volte,
ou com o tempo lhe esqueça,
como a ampulheta e a areia,
e me enlaço, sem vergonha,
em outros braços, outra teia.